Nova Diretriz para Tratamento e Diagnóstico do Autismo
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) divulgou novas diretrizes que visam aprimorar o diagnóstico e o tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este documento contém orientações baseadas em evidências científicas e práticas que necessitam de maior atenção, sendo um recurso essencial para profissionais da saúde que atuam na área.
Aspectos do Diagnóstico
O diagnóstico do TEA é, em sua essência, um processo clínico que requer uma análise cuidadosa de diversos fatores. As diretrizes ressaltam que a identificação do transtorno deve considerar os seguintes aspectos:
História e Observação Clínica
A avaliação deve incluir a observação direta do paciente, entrevistas com os pais e o uso de critérios diagnósticos do DSM-5. É fundamental que os profissionais considerem a presença de sintomas comórbidos e fatores ambientais, como a vulnerabilidade social e a exposição excessiva a telas, que podem imitar os sinais do TEA. Além disso, a história de desenvolvimento neuropsicomotor da criança, bem como os antecedentes gestacionais e familiares, são essenciais para uma avaliação precisa.
Escalas de Avaliação e Rastreio
As diretrizes enfatizam a importância de ferramentas de triagem, como o M-Chat, que foi recentemente incorporado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para rastreamento do TEA em crianças de 16 a 30 meses. Também são mencionadas outras escalas validadas para o português brasileiro, como CARS-2, ADI-R e ADOS-2, cada uma com suas especificidades e limitações. É importante lembrar que nenhuma ferramenta isolada é suficiente para todos os cenários clínicos, e o diagnóstico deve sempre ser apoiado pelo histórico do paciente e informações adicionais.
Determinação do Nível de Suporte
O DSM-5 categoriza o TEA em três níveis de suporte, que variam de 1 a 3, sendo estes definidos de acordo com a necessidade da criança. É importante que os relatórios informem que a classificação se refere ao momento da avaliação, pois a gravidade do transtorno pode variar ao longo do tempo. Não é recomendado categorizar crianças muito pequenas ou recém-diagnosticadas.
Investigação Complementar
O exame neurológico é considerado obrigatório, enquanto exames complementares, como testes laboratoriais e de imagem, não são essenciais para o diagnóstico, mas podem ser úteis em diagnósticos diferenciais e na compreensão da etiologia do transtorno.
Orientações para Tratamento
As diretrizes também abordam as melhores práticas para o tratamento do TEA, destacando métodos que têm respaldo científico significativo.
Abordagem Terapêutica
As estratégias com maior comprovação de eficácia são aquelas baseadas na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que podem ser combinadas com outras terapias. O relatório menciona 28 práticas baseadas em evidências que podem ser benéficas, entre elas a terapia cognitivo-comportamental, o ensino por tentativas discretas, a modelagem e o treino de habilidades sociais. A lista completa dessas práticas está disponível no documento oficial.
Frequência e Carga Horária
É destacado que é um erro grave exigir que o médico determine a carga horária exata de cada abordagem terapêutica. O médico pode sugerir uma carga inicial de tratamento, que deve ser ajustada com base na avaliação da equipe terapêutica e nas características individuais de cada caso. A abordagem transdisciplinar é considerada mais eficaz, e o treinamento de pais e cuidadores é fundamental para assegurar resultados positivos.
Terapia Medicamentosa
As orientações enfatizam que não existe um tratamento farmacológico específico para os sintomas centrais do TEA. Medicamentos podem ser utilizados para tratar comorbidades, como agressividade, TDAH e distúrbios do sono. Uma análise funcional deve preceder a medicação para determinar a causa dos comportamentos disruptivos.
Avaliação dos Distúrbios do Sono
Os distúrbios do sono são comuns em crianças com TEA e podem exacerbar problemas comportamentais. O documento sugere práticas de higiene do sono e terapia cognitivo-comportamental como opções de tratamento. A melatonina é considerada a opção com maior evidência para melhorar a duração do sono, mas a avaliação da rotina e da higiene do sono continua sendo crucial.
Intervenções Não Corroboradas pela Ciência
O documento também alerta que, até o momento, não há evidências científicas confiáveis que sustentem a eficácia de dietas específicas, como as sem glúten ou caseína, e de intervenções biológicas, como células-tronco e ozonioterapia, no tratamento do TEA. Intervenções como psicanálise e Son-rise carecem igualmente de comprovações de resultados positivos. O uso de canabidiol (CBD) continua sendo experimental e deve ser administrado com cautela e consentimento informado.
Considerações Finais
As diretrizes da SBNI mencionam ainda abordagens como estimulação craniana não invasiva, Floortime e equoterapia, que estão em fase de estudos e podem apresentar resultados promissores, mas que ainda não possuem evidências robustas suficientes para serem recomendadas de forma amplamente aceita. É essencial que os tratamentos sejam orientados com cautela, considerando os riscos de optar por abordagens sem comprovação científica, que podem levar ao abandono de terapias eficazes.