Comando Vermelho Domina Belém Antes da Operação da COP30

Como o Comando Vermelho Dominou Belém e a Operação das Forças Armadas para a COP30

O Comando Vermelho (CV), uma das facções criminosas mais conhecidas do Brasil, chegou à cidade de Belém por volta de 2015. Desde então, a facção tem se expandido de forma significativa, incorporando gangues locais e estabelecendo um controle que abrange não apenas a capital paraense, mas também regiões metropolitanas como Ananindeua e Barcarena. Este crescimento ocorre em um contexto em que Belém se prepara para receber a COP30, uma cúpula internacional sobre mudanças climáticas, que traz à tona questões importantes sobre segurança pública e a presença do crime organizado.

A Realidade nas Comunidades de Belém

Em várias áreas da região metropolitana de Belém, a presença do Comando Vermelho é uma realidade inegável. Tulio, um morador local, descreve a aparência de tranquilidade que se observa em seu bairro, onde crianças brincam e as pessoas se reúnem nas calçadas. Contudo, essa tranquilidade é frequentemente interrompida por momentos de tensão, especialmente após operações policiais significativas, como a que ocorreu no Rio de Janeiro no final de outubro de 2025, que resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais.

Após essa operação, Tulio notou um clima de medo e apreensão, com mensagens circulando nas redes sociais sobre cuidados e precauções, uma clara demonstração do controle que o CV exerce sobre a população. Em Belém, a rotina volta ao que eles chamam de “normal”, que na verdade é marcada pela submissão da população às ordens da facção, frequentemente transmitidas via redes sociais.

Imposição de Taxas e Controle Social

A imposição de “taxas” por comerciantes é uma prática comum na região dominada pelo CV. Os empresários se veem obrigados a pagar valores para continuar operando, sob pena de sofrerem represálias severas, incluindo mortes. O CV, que já foi alvo da operação no Rio, expandiu-se rapidamente ao longo dos anos e agora é a facção predominante na capital paraense, conforme apontado pelo estudo “Cartografias da Violência na Amazônia 2024”.

O Pará, com sua relevância na expansão do CV, se destaca no cenário nacional, com dados indicando que a facção tem forte presença em 73 municípios do estado, controlando 57 deles. A dinâmica do crime organizado na região é complexa e exige uma abordagem cuidadosa e estratégica das autoridades.

Operações de Garantia da Lei e da Ordem

Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou a operação das Forças Armadas em Belém, entre 2 e 23 de novembro, em resposta à situação de segurança em meio à COP30. O decreto foi solicitado pelo governador do Pará, Helder Barbalho, e visa garantir a segurança durante o evento internacional, que atrai a atenção global. A presença militar se concentrará em áreas estratégicas, como o Aeroporto Internacional de Belém e locais de eventos.

Entretanto, a efetividade das operações de segurança é questionada, especialmente em relação à maneira como elas podem impactar a população local e a dinâmica de violência já existente. O alerta de organizações de direitos humanos sobre a militarização excessiva durante a COP30 levanta importantes questões sobre os direitos civis e a participação da sociedade civil no evento.

A Presença do CV e a COP30

Embora a COP30 traga investimentos e melhorias em infraestrutura para algumas áreas de Belém, muitos moradores afirmam que os benefícios não chegam às comunidades mais periféricas. A presença do CV continua a ser uma preocupação constante, e a relação entre a facção e a operação militar pode ser vista com ceticismo. A realidade é que, mesmo com a mobilização das Forças Armadas, a vida cotidiana nas comunidades dominadas pelo CV permanece sob a sombra da violência e do controle social.

Gabriel, outro morador da região, relata que a chegada do CV alterou a dinâmica do crime local, reduzindo significativamente a taxa de roubos. A facção impõe regras que proíbem assaltos, com o objetivo de manter uma aparência de ordem, o que, paradoxalmente, leva a um controle ainda mais rígido sobre a população. As mensagens e ordens do CV são disseminadas por meio de redes sociais, reforçando seu domínio sobre o território.

Conclusão

A história de como o Comando Vermelho dominou Belém é um reflexo de um fenômeno mais amplo de expansão do crime organizado na Amazônia. À medida que a cidade se prepara para a COP30, as autoridades enfrentam o desafio de garantir a segurança em um contexto marcado pela presença de facções criminosas. A operação das Forças Armadas pode trazer algum alívio temporário, mas a luta contra o crime organizado e a busca por uma sociedade mais justa e segura para todos continua sendo um desafio complexo e multifacetado.

Referências

Cartografias da Violência na Amazônia 2024, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Instituto Mãe Crioula (IMC).